Sem Medo: o primeiro passo para dominar o poker
Um releitura do texto "O Medo do Zero, por Tommy Angelo" utilizando conceitos dos livro "Mais Esperto que o Diabo" de Napoleon Hill
Imagine por um instante que o medo deixasse de existir enquanto você joga. Nada de receio ao tomar um check-raise. Nenhuma angústia por parecer ridículo após uma jogada ousada. Nenhum pavor de ser eliminado. Consegue visualizar isso? Um poker sem freios, jogado com consciência plena e coragem ativa.
O medo, no entanto, está por toda parte. E mais do que isso: ele é sorrateiro, sempre assumindo formas específicas. Blefar com medo é diferente de blefar com convicção. Sentar à mesa receoso de perder é completamente diferente de jogar por valor com confiança. Quando estamos dominados pelo medo, não é só nosso jogo que se sabota — é nossa mente que se curva.
Nomeando os Monstros
Todo medo tem nome. E é ao nomeá-los que começamos a enfrentá-los. Medo de parecer fraco. Medo de pagar demais. Medo de blefar e quebrar a cara. Medo de tomar uma bad beat e ser consumido pela raiva. Medo de um reg experiente. Medo de um recreativo imprevisível. Medo do fracasso.
É essa a estratégia do medo: ele se disfarça, se infiltra, nos paralisa. E o pior é que muitas vezes aceitamos esse controle passivamente — como se fosse normal. Sem perceber, viramos joguetes, andando em círculos mentais que nos afastam das decisões certas.
No fundo, há sempre um medo maior por trás dos pequenos: o medo de falhar.
O Medo do Zero
No poker, a “morte” tem três formas claras:
Ficar sem fichas na mesa.
Ficar sem dinheiro no bolso.
Perder todo o bankroll.
Essas “mortes” parecem definitivas, e é isso que o medo adora: fazer parecer que tudo acabou. O que esquecemos é que tanto as fichas quanto o dinheiro e o bankroll podem ser reconstruídos. A paralisia vem não da perda, mas da ideia construída de que essa perda nos define.
Quando o medo domina, você já perdeu — mesmo com fichas. O jogador que teme demais já está entregue. Ele joga para sobreviver, não para vencer. Ele quer evitar a dor, não buscar a glória.
Larry e o Jogo do Medo
Imagine o Larry. Está na última bala, a quarta recompra da noite. O jogo está bom, ele quer continuar, mas está aterrorizado. A pilha que tem à frente é tudo o que resta, e o medo sufoca suas decisões. Com um par de valetes no big blind, ele só paga. Não arrisca. Não se impõe. Às 23h, está indo embora com o gosto amargo da derrota — causada não pelo adversário, mas pela hesitação.
Esse ciclo é comum: o medo de perder gera decisões ruins, que geram perdas, que geram mais medo. Uma espiral.
O Medo que Transborda
Para quem joga por prazer, o medo de perder pode ser apenas um incômodo. Para quem leva a sério, ele é um adversário invisível. Já para o profissional, esse medo se torna existencial.
Mais do que perder dinheiro, é o medo de se provar indigno, de falhar consigo mesmo, de ouvir a pergunta temida: “E o poker, ainda está dando certo?”. O medo do julgamento, do fracasso público, da vergonha — todos esses fantasmas fazem morada na mente de quem se identifica profundamente com o jogo.
Esse é o medo que Napoleon Hill descreve: o medo usado como ferramenta de controle. Ele mantém você em “drift”, em deriva — sem clareza, sem ação deliberada, escravizado por uma força invisível que dita suas escolhas.
A Saída é a Consciência
Você não vai eliminar o medo da noite pro dia. E talvez nunca o elimine completamente. Mas pode enfraquecê-lo. E isso começa com um ato simples, mas poderoso: encará-lo. Entender seus mecanismos. Perguntar por que ele está ali. Nomeá-lo, desafiá-lo, rir dele.
Medo não gosta de luz. Ele vive da confusão, da hesitação, da ignorância. Quando você se posiciona com clareza, quando joga com intenção, ele perde força.
Poker jogado com consciência é poker jogado com liberdade. E onde há liberdade, o medo não reina.